Page 30 - Revista da Ordem - Edição 31

p i t o r e s c o Edgard Luiz Cavalcanti de Albuquerque

O Juquinha

Ocaso foi relatado por um co-
lega de Ponta Grossa, ocor-
rido em comarca próxima.
Crime de morte no qual estava sendo
acusado antigo e conhecido morador
da região, de nome Juquinha. A fa-
mília da vítima trouxe de São Pau-
lo advogado conceituado e versado
em júri, o qual na réplica, para dar
maior ênfase na argumentação, efe-
tuou a leitura de trecho do tratado de
Nélson Hungria. Disse que o crime
cometido pelo acusado Juquinha es-
tava ali bem retratado, como retrata-
da estava a punição a ser aplicada.

Na sua parte, o advogado de de-
fesa, também antigo morador da re-
gião e por todos respeitado, não só
por seus conhecimentos, mas por sua
argúcia e matreirice, virou-se para os
jurados e disse:

- Meus amigos, vocês conhecem o
Juquinha há muitos anos. Sabem que
se trata de pessoa amiga, que bebe
com todos nas festas, joga bocha, tem
cavalo corredor e ganhador nas raias,
caboclo bom nas festas de igreja e pé-
de-valsa. Conhecendo tão bom ho-
mem, vocês acham que ele cometeria
esse crime? Claro que não.

E continuou, enfático:
- Agora vem esse advogado de fora
e diz que um tal de Nélson Hungria
conta tudo do Juquinha. Vocês conhe-
cem esse homem, já o viram por aqui,
sabem se ele já correu esses matos com
o Juquinha? Não, ninguém conhece
ele, é um estanho que diz saber o que o
Juquinha fez ou deixou de fazer. Des-
sa forma, ou vocês acreditam no Ju-
quinha, companheiro velho de guerra
e o absolvem, ou acreditam nesse tal
de Nélson Hungria e condenam, man-
dando o nosso Juquinha para a cadeia.
Adivinhem o resultado: absolvido.

* Nota do editor: O pitoresco acima foi contado pelo advogado Edgard Luiz Cavalcanti de Albuquerque, ex-presidente da OAB Paraná, no livro O Pitoresco na
Advocacia, coordenado pelo também advogado Fernandino Caldeira de Andrada, ex-presidente do Instituto dos Advogados do Paraná e publicado em 1990.
Foi a obra que inspirou esta página quando de sua criação, em 2010. Ernani Buchmann

30 | setembro/outubro | 2016 | REVISTA dA ORDEM