Page 8 - Revista da Ordem - Edição 40
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eennttrreevvisisttaa| Carlos Velloso
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2017 | agosto | REVISTA dA ORDEM  Em meio a tantos problemas do Executivo e do Legislativo,
                                  o Judiciário vem tendo mais destaque do que nunca – e, por
                                  isso, está na mira dos críticos. Como é que o Senhor analisa
                                  hoje a atuação do Supremo Tribunal Federal?

                                  Há críticas justas e críticas injustas ao STF. O Supremo é
                                  um tribunal centenário, uma Casa de alta respeitabilidade,
                                  cujas portas sempre estiveram abertas a quem pugna pela
                                  liberdade, e tem tido uma atuação louvável de Corte Supre-
                                  ma. Agora, ultimamente, o STF vem sofrendo críticas seve-
                                  ras, muito em razão da excessiva exposição de seus minis-
                                  tros, com julgamentos transmitidos na televisão... Eu acho
                                  que os grandes julgamentos do Supremo Tribunal Federal
                                  deveriam ser postos na televisão, mas devidamente edita-
                                  dos, sem expor relatórios enfadonhos, aquele debate...

                                  Vaidoso?                                                                       Praticamos um presidencialismo
                                                                                                                 de coalizão horrível! O nosso
                                  Exatamente, sem o debate vaidoso entre membros do Su-                          presidencialismo faliu! Precisamos
                                  premo. O ministro Francisco Rezek, que também foi do STF,         substituir esse presidencialismo falido pelo
                                  disse recentemente que hoje parece que os ministros do            parlamentarismo.”
                                  Supremo se estimam menos. Estou de acordo em gênero,
                                  número e grau. Em nosso tempo, no STF, nós nos estimáva-                       Temos que juntar esforços, homens
                                  mos como irmãos. Discutíamos, divergíamos, mas sempre                          de boa vontade, advogados, juízes,
                                  no campo das ideias. É interessante a crítica que faz o li-                    e todos sustentarmos: é preciso
                                  vro “Onze Supremos”, coordenado pelo professor Joaquim            votar bem, é preciso saber escolher.”
                                  Falcão: hoje parece que nós não temos um Supremo Tribu-
                                  nal Federal, mas sim onze Supremos. Isso não está certo. O
                                  prestígio de cada ministro do Supremo está no prestígio da
                                  Casa. Nesse aspecto, a crítica ao STF é razoável.

                                  O Sr. vê o futuro do Brasil com otimismo ou com pessimismo?

                                  Eu sou otimista! Este país tem futuro. Não obstante os maus
                                  políticos que têm castigado o país, corruptos que corrompe-
                                  ram a Administração Pública brasileira, eu sou otimista. E
                                  sou otimista também com o Judiciário. É a Justiça brasileira
                                  que está passando a limpo o Brasil!

                                  A propósito, para encerrarmos, o que o Sr. pensa da atuação
                                  do juiz Sérgio Moro, que é visto como herói por alguns e
                                  como vilão por outros, alvo de críticas inclusive de advo-
                                  gados que atuam na defesa de réus da Operação Lava Jato?

                                  É horrível se falar em juiz herói! Não há de se falar em juiz
                                  herói. Há de se falar em juiz eficiente, juiz competente, juiz
                                  que cumpre o seu dever. Acho que os elogios ao juiz Sérgio
                                  Moro superam as críticas negativas. Nunca estive pessoal-
                                  mente com ele, mas acho que o juiz Moro é um homem cora-
                                  joso, um juiz severo, porém, um juiz justo. E por que é um juiz
                                  justo? Ora, ele está submetido a três tribunais. Os atos do juiz
                                  Sérgio Moro são revistos pelo Tribunal Regional Federal, pelo
                                  Superior Tribunal de Justiça e pelo Supremo Tribunal Federal.
                                  E a maioria das decisões dele está sendo confirmada, ratificada
                                  por esses tribunais, algumas até alteram as penas para maior.
                                  Eu acho que a Lava Jato teria cometido excessos? Admito que
                                  sim. Agora, qual é a forma de afastar o excesso? Submetendo
                                  os atos do magistrado aos tribunais. Então, eu diria a meus
                                  colegas advogados: em vez de criticarem, recorram, para que
                                  o tribunal revise essas sentenças. Há excessos que podem ser
                                  corrigidos, excessos do Ministério Público... Mas o combate à
                                  corrupção é necessário, porque a corrupção degrada os costu-
                                  mes. A corrupção corrói por dentro e liquida com a República.

                                  Entrevista        Entrevista: Denian Couto.
                                  com o Ministro  Edição: Vinícius André Dias
                                  em vídeo
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