Page 6 - Revista da Ordem - Edição 35
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2017 | MARÇO | REVISTA dA ORDEM Mesa-Redonda
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Mulheres na advocacia:
“Chegamos aqui e
não vamos recuar”
Uma mesa-redonda de mulheres advogadas. Algo impossível de se realizar quando da
fundação da OAB Paraná, 85 anos atrás. Em 1932, entre os mais de cem inscritos pionei-
ramente na Seccional, havia apenas uma mulher. Atualmente, há quase 27 mil advoga-
das no Paraná – 45% dos cerca de 60 mil profissionais da advocacia paranaense. Muitas
delas ocupam posições de destaque na OAB, algumas das quais participaram desta mesa-redonda.
São mulheres que conquistaram seu espaço como profissionais e representantes da classe, mas que
não se dão por satisfeitas, até por saberem da responsabilidade que têm como referenciais para as
novas advogadas. Não à toa, frases como “Chegamos aqui e não vamos recuar” e “Nós precisamos
conquistar mais espaços” foram ditas com ênfase ao longo da entrevista – na realidade, mais um
bate-papo entre elas do que uma entrevista, pois, com cinco mulheres falando (muitas vezes ao
mesmo tempo), não foi preciso fazer mais do que uma pergunta para que elas discorressem com
brilho sobre diversos temas relacionados à atuação feminina na advocacia.
Participaram da mesa-redonda:
Marilena Winter Graciela Marins Priscilla Placha Sá (Presidente Silvana Cristina de Oliveira Luciana Sbrissia Silva Bega
(Secretária-geral (Presidente da Comissão
da OAB Paraná) (Coordenadora Geral da da Comissão de Prerrogativas e Niemczewski (Presidente da da Mulher Advogada)
Escola Superior da Advocacia) Defesa Profissional) Comissão de Igualdade Racial)
A OAB Paraná acaba de completar se: “Doutora, gostei muito da senhora, uma grande discriminação entre a mu-
85 anos. Quando da fundação da Sec- mas eu quero ver um homem me defen- lher e o homem na advocacia. Parece-me
cional, havia apenas uma advogada dendo”. E já ouvi algo parecido de uma que é mais uma questão cultural quanto
inscrita, a Dra. Walkiria Naked. Hoje, cliente mulher também. Então, há áreas ao exercício profissional, pois ainda exis-
entre os inscritos na OAB Paraná, as mais difíceis para as advogadas. Além tem áreas consideradas masculinas. Se
mulheres já estão praticamente em disso, ainda que o ganho quantitativo você quer fazer o seu divórcio,vai se lem-
igualdade numérica com os homens, de mulheres na advocacia seja impor- brar de uma advogada mulher. Agora, se
e há advogadas em altos postos den- tante, comparativamente à existência tiver um problema criminal, pensará em
tro da entidade, a exemplo das Sras. O de uma única advogada na fundação da um advogado homem, mesmo que hoje
que falta às advogadas conquistarem OAB Paraná, é preciso haver um ganho existam grandes profissionais mulhe-
e quais as dificuldades que as mulhe- qualitativo no exercício profissional e res na área criminal, como em todas as
res ainda enfrentam na advocacia? nos espaços de poder. Aliás, na festa dos áreas. A mim parece que isso não é bem
85 anos da OAB Paraná, para mim exis- uma discriminação, é uma questão cul-
Priscilla Placha Sá: Ainda hoje há uma tia um encanto de ver a Dra. Edni Arru- tural, pois ainda falta-nos espaço. E falta
dificuldade maior para o exercício da da, nossa primeira conselheira federal, espaço porque os homens têm o grupo
advocacia autônoma por parte das mu- compondo a mesa. Porque aquele não é do futebol, da sauna, e, desse relaciona-
lheres, em todas as áreas, mas especial- um espaço natural do feminino. A Dra. mento nos grupos, advêm os negócios,
mente em alguns nichos reconhecida- Edni ainda é uma Dra. Walkiria. as causas... É uma tendência natural que
mente masculinos, como a advocacia os homens tenham os seus grupos e as
criminal, em que eu advogo. Eu mesma Graciela Marins: Eu também não acho mulheres os delas. Só que, até há pouco
já fui discriminada. Fui indicada para que é uma questão de quantidade, por- tempo, os grupos de mulheres eram de
trabalhar em uma grande operação, que hoje as mulheres estão cada vez donas de casa e se restringiam a tomar
conversei com o cliente, e ele me dis- mais presentes no Direito. E não vejo chá. Hoje, temos grupos de mulheres que