Page 8 - Revista da Ordem - Edição 35
P. 8
Mesa-Redonda
8
2017 | MARÇO | REVISTA dA ORDEM mulher negra, eu tenho que pensar Temos um transigir. Às vezes a gente tem dificul-
nela. Mas, afinal, o que é a “mulher tribunal dade em tomar uma solução de meio
advogada”? Depende da mulher advo- com 120 termo. E eu brinco com as alunas e
gada. A tributarista branca, a civilista componentes e menos digo, na linguagem delas: “vocês têm
negra... Esse é o nosso espaço de acú- de 10% dele é composto que aprender a não ficar chamando a
mulo, não de divisão. por desembargadoras. amiga de Falsiane” [Risos]. A palavra
A própria OAB, de ordem deveria ser sororidade. Eu
Silvana: Temos que fazer com que a so- enquanto instituição, tenho que aprender que a minha dife-
ciedade como um todo, mas especial- ainda partilha disso que rença, a minha singularidade tem que
mente a minoria vulnerável, seja atendi- a gente chama de “teto agregar, não dividir. Temos que supe-
da. Porque a Ordem é pilar, é base. Nós de vidro”, que é a rar essas singularidades para pautar
já conseguimos muitas coisas. E sem nos barreira invisível, que conquistas de classe.
vitimizarmos, de forma alguma. Pelo não está declarada”.
contrário. Esse não é o caminho. Silvana: É isso mesmo que está faltan-
Priscilla Placha Sá do a nós, enquanto mulheres: união.
Priscilla: Não mesmo. Estamos aqui e Se nós já vamos passar os homens em
ninguém nos tira. [Risos] Priscilla: Exatamente. É a rede de con- número, não chegamos aos cargos de
tatos de determinados espaços. Aquilo chefia por quê? Quem vota? Somos
Silvana: Ninguém tira. Chegamos que a Graciela falou no início, o espa- nós, mulheres.
aqui e não vamos recuar. Porque ser ço do futebol e do uísque, um clube
mulher não é fácil em lugar nenhum. ao qual o público feminino não tem Marilena: Aqui, dentro da Ordem, a
A gente está falando aqui enquanto acesso. É uma dificuldade com a qual gente pode ir mudando as condições, a
mulher advogada. Mas a gente não é a gente tem de lidar, com aquilo que cultura. A gente se pergunta: “Ah, por
só a profissional. A gente é a dona de o que a Marilena falou há pouco, eco- que nunca teve uma mulher na presi-
casa, a mãe, a filha, a esposa, geral- nomia, política e finanças, que são as dência, na vice-presidência da Seccio-
mente a gente não pode ficar até dez, coisas que gerem o mundo. Este espa- nal”? E a resposta mais comum é: “Por-
onze horas da noite no trabalho. En- ço está tomado. Por exemplo, a gente que nenhuma mulher se interessou por
tão, até para conseguir vaga em gran- tem um tribunal com 120 componen- isso”. Talvez a gente precise, então, ir
des escritórios, na hora da análise do tes e menos de 10% dele é composto criando essa situação. E talvez não seja
currículo, pode ter certeza: se estiver por desembargadoras. A própria OAB, imediato que isso vá acontecer. Até
no período fértil, até os 40 anos, sem enquanto instituição ainda partilha porque ninguém aqui quer que uma
filhos, é mais difícil conseguir entrar. disso que a gente chama de “teto de mulher ocupe um lugar só pelo fato
Porque vai ter licença-maternidade, vidro”, que é a barreira invisível, que de ser mulher. Ela tem que ser capaz
os afastamentos... não está declarada. Felizmente, a Sec- e também tem que querer. Mas temos
cional é um ótimo exemplo com re- que ir criando essas condições.
Luciana: Eu ouvi de um cliente meu: lação a isso. Mas é aquela coisa: você
“eu não contrato mulher, porque mu- ascende, pero no mucho. Luciana: Somos quase 45% do total de
lher só dá prejuízo, tem licença-ma- advogados ativos no Paraná. Já entre
ternidade, tem o intervalo...”. Por Graciela: Realmente, é mais fácil para o presidentes de comissões na OAB
outro lado, tem várias pesquisas que homem estar no poder, porque ele tem Paraná, somos 35% (52 mulheres e
comentam que a mulher depois de os amigos que estão no poder, ele sai 96 homens presidindo comissões).
engravidar se torna muito mais pro- com os amigos, vai para o futebol, vai E quando analisamos os dados de
dutiva. Estamos com uma advogada para a sauna, e ele trava ali o relaciona- advogados em cargos na Ordem, de
grávida no escritório. Eu falei pra ela: mento e como vai chegar lá. Mas tam- forma geral, vemos que cerca de 40%
eu vou estar ao seu lado, você vai ter bém porque me parece que a mulher são mulheres e 60% são homens. A
o seu filho e vai se tornar uma mulher é mais competitiva entre si do que os posição da OAB é fundamental, como
ainda mais maravilhosa. Precisamos homens. Os homens são mais unidos, importante agente de transformação,
ter essa preocupação em servir de mo- apoiam uma ideia e vão junto. A mu- também pela representatividade que
delo e falar com a mulher: sim, você lher compete entre si. E daí todas per- a Ordem tem perante a sociedade.
pode. Isso é o real empoderamento da dem. Acho que isso é um aprendizado. Porque nós temos a condição de fazer
mulher. O empoderamento não é dar um elo com políticas públicas, com
poder de fazer, é conscientizar que Priscilla: Fomos educadas a ter de- o Legislativo, com o Judiciário, com
sim, você pode. Você pode ser mãe, terminadas práticas e não aprender a o Executivo. Então, enquanto advo-
você pode ocupar espaços, você pode gadas, é nosso papel discutir sobre a
se relacionar. E hoje o desafio da mu- questão do posicionamento da mu-
lher é como fazer o networking. lher e levar isso adiante.