Page 7 - Revista da Ordem - Edição 35
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são profissionais, e que tomam o seu es-                    Este talvez seja              ao extremo. A gente tem que ter em
paço. É claro que a maioria desse espaço                    um desafio da                 quem se espelhar. Eu olho você, Dra.
ainda é dos homens. Mas essa questão                        Ordem: criar as               Marilena, na Diretoria da OAB Paraná,
cultural vai passar. Porque a mulher cada      condições para que as                      e me vejo, e penso que também posso
vez mais amplia a sua participação.            mulheres possam externar                   chegar aí. Nós podemos.
                                               os seus interesses
Luciana Sbrissia Silva Bega: De fato,          verdadeiros sobre temas                    Marilena Winter: A admiração é recípro-
não é necessariamente uma discri-              acerca dos quais existe um                 ca, Silvana, acho que não teria a mesma
minação positiva e consciente, mas             mito de que são ligados                    garra que você teve para chegar ao lugar
é inconsciente, por toda uma ques-             exclusivamente ao                          que ocupa. De fato, eu acho que a nossa
tão cultural. A Dra. Graciela diz que          universo masculino, como                   crise é de representatividade. Nós ainda
isso vai passar. Eu acredito que sim, a        política e economia”.                      não temos. Por isso todas nós, mulhe-
gente luta pra que isso aconteça. Mas                                                     res, que ocupamos hoje espaços poten-
talvez demore muito. Por exemplo,                                        Marilena Winter  cialmente transformadores, e não por
uma pesquisa da Confederação Nacio-                                                       concessão de alguém, mas por méritos
nal das Indústrias projeta que, a con-     a gente não tem são as mesmas opor-            próprios, devemos entender que temos
tinuar a progressão atual em relação       tunidades. Mas somos nós, as operado-          uma responsabilidade enorme. Esta é
ao aumento de representatividade das       ras do Direito, que temos que fazer a          uma missão: criar as condições para
mulheres em posições de decisão, vai       diferença e quebrar as barreiras. Temos        que mais mulheres venham, cheguem
demorar mais 85 anos para o Brasil al-     essa responsabilidade. Enquanto mu-            mais perto. O desafio da mulher é esse,
cançar uma equidade entre homens e         lheres, temos que nos unir. Inclusive          porque a gente precisa reafirmar todo
mulheres. Já o Fórum Econômico Mun-        politicamente, no Executivo, no Legis-         dia um espaço conquistado. Isso é difí-
dial levantou que, apesar de figurar       lativo, no Judiciário, pois ainda temos        cil. Os homens já têm isso, nós não. Nós
entre as maiores economias do mundo,       cotas de uma, duas, três mulheres nos          precisamos conquistar mais espaços,
o Brasil está na 81ª posição, entre 142    espaços de poder e de decisão. E isso é        dar passos à frente, mas reafirmando
países, em termos de liderança femi-       inaceitável, se nós somos maioria. Mas         diariamente o espaço já conquistado.
nina, e que serão necessárias mais de      essa dificuldade existe historicamente.        Mas existem muitas variáveis a se con-
oito décadas para que homens e mu-         E ela existe até mesmo dentro da Or-           siderar, entre elas o interesse da própria
lheres atinjam condições de igualdade      dem, que é uma instituição maravilho-          mulher em determinados assuntos,
nos seus locais de trabalho.               sa, onde hoje nós temos mulheres na            considerados “masculinos”. Este tal-
                                           Diretoria, presidindo comissões... Mas,        vez seja um desafio da Ordem: criar as
Silvana Cristina de Oliveira Niemcze-      dentro da Ordem, as portas estão se            condições para que as mulheres possam
wski: É o que a gente vê na Justiça do     abrindo. Porque nós servimos de refe-          externar os seus interesses verdadeiros
Trabalho. Mesmo em postos de che-          rência. Aliás, eu a admiro muito, Dra.         sobre esses temas acerca dos quais exis-
fia, a mulher ainda ganha 30% a 40%        Marilena, porque é o referencial. E a          te um mito de que são ligados exclusi-
menos do que o homem. Isso acontece        gente tem que ter um referencial. Eu           vamente ao universo masculino, como
também na advocacia. Principalmente        fui a primeira a ser formada em casa,          política e economia.
para as advogadas iniciantes, que têm      de um pai que não sabia ler nem es-
dificuldade de ingressar no mercado de     crever. E hoje eu tenho a minha irmã           Priscilla: A nossa tarefa, de sororidade,
trabalho, abrir um escritório, angariar    que assumiu o escritório, competente           e essa é uma palavra que a gente pre-
clientes, fazer parcerias. E a gente sabe                                                 cisa aprender a praticar, é reconhecer
que, perante os homens, nós estamos                                                       a singularidade das irmãs, mulheres.
em pé de igualdade, porque conheci-                                                       Por exemplo, ainda que eu não me
mento e competência nós temos, o que                                                      veja na condição de falar como uma
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