Page 7 - Revista da Ordem - Edição 35
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2017 | MARÇO | REVISTA dA ORDEM
são profissionais, e que tomam o seu es- Este talvez seja ao extremo. A gente tem que ter em
paço. É claro que a maioria desse espaço um desafio da quem se espelhar. Eu olho você, Dra.
ainda é dos homens. Mas essa questão Ordem: criar as Marilena, na Diretoria da OAB Paraná,
cultural vai passar. Porque a mulher cada condições para que as e me vejo, e penso que também posso
vez mais amplia a sua participação. mulheres possam externar chegar aí. Nós podemos.
os seus interesses
Luciana Sbrissia Silva Bega: De fato, verdadeiros sobre temas Marilena Winter: A admiração é recípro-
não é necessariamente uma discri- acerca dos quais existe um ca, Silvana, acho que não teria a mesma
minação positiva e consciente, mas mito de que são ligados garra que você teve para chegar ao lugar
é inconsciente, por toda uma ques- exclusivamente ao que ocupa. De fato, eu acho que a nossa
tão cultural. A Dra. Graciela diz que universo masculino, como crise é de representatividade. Nós ainda
isso vai passar. Eu acredito que sim, a política e economia”. não temos. Por isso todas nós, mulhe-
gente luta pra que isso aconteça. Mas res, que ocupamos hoje espaços poten-
talvez demore muito. Por exemplo, Marilena Winter cialmente transformadores, e não por
uma pesquisa da Confederação Nacio- concessão de alguém, mas por méritos
nal das Indústrias projeta que, a con- a gente não tem são as mesmas opor- próprios, devemos entender que temos
tinuar a progressão atual em relação tunidades. Mas somos nós, as operado- uma responsabilidade enorme. Esta é
ao aumento de representatividade das ras do Direito, que temos que fazer a uma missão: criar as condições para
mulheres em posições de decisão, vai diferença e quebrar as barreiras. Temos que mais mulheres venham, cheguem
demorar mais 85 anos para o Brasil al- essa responsabilidade. Enquanto mu- mais perto. O desafio da mulher é esse,
cançar uma equidade entre homens e lheres, temos que nos unir. Inclusive porque a gente precisa reafirmar todo
mulheres. Já o Fórum Econômico Mun- politicamente, no Executivo, no Legis- dia um espaço conquistado. Isso é difí-
dial levantou que, apesar de figurar lativo, no Judiciário, pois ainda temos cil. Os homens já têm isso, nós não. Nós
entre as maiores economias do mundo, cotas de uma, duas, três mulheres nos precisamos conquistar mais espaços,
o Brasil está na 81ª posição, entre 142 espaços de poder e de decisão. E isso é dar passos à frente, mas reafirmando
países, em termos de liderança femi- inaceitável, se nós somos maioria. Mas diariamente o espaço já conquistado.
nina, e que serão necessárias mais de essa dificuldade existe historicamente. Mas existem muitas variáveis a se con-
oito décadas para que homens e mu- E ela existe até mesmo dentro da Or- siderar, entre elas o interesse da própria
lheres atinjam condições de igualdade dem, que é uma instituição maravilho- mulher em determinados assuntos,
nos seus locais de trabalho. sa, onde hoje nós temos mulheres na considerados “masculinos”. Este tal-
Diretoria, presidindo comissões... Mas, vez seja um desafio da Ordem: criar as
Silvana Cristina de Oliveira Niemcze- dentro da Ordem, as portas estão se condições para que as mulheres possam
wski: É o que a gente vê na Justiça do abrindo. Porque nós servimos de refe- externar os seus interesses verdadeiros
Trabalho. Mesmo em postos de che- rência. Aliás, eu a admiro muito, Dra. sobre esses temas acerca dos quais exis-
fia, a mulher ainda ganha 30% a 40% Marilena, porque é o referencial. E a te um mito de que são ligados exclusi-
menos do que o homem. Isso acontece gente tem que ter um referencial. Eu vamente ao universo masculino, como
também na advocacia. Principalmente fui a primeira a ser formada em casa, política e economia.
para as advogadas iniciantes, que têm de um pai que não sabia ler nem es-
dificuldade de ingressar no mercado de crever. E hoje eu tenho a minha irmã Priscilla: A nossa tarefa, de sororidade,
trabalho, abrir um escritório, angariar que assumiu o escritório, competente e essa é uma palavra que a gente pre-
clientes, fazer parcerias. E a gente sabe cisa aprender a praticar, é reconhecer
que, perante os homens, nós estamos a singularidade das irmãs, mulheres.
em pé de igualdade, porque conheci- Por exemplo, ainda que eu não me
mento e competência nós temos, o que veja na condição de falar como uma