Page 8 - Revista da Ordem - Edição 38
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entrevista: Hélio Gomes Coelho Júnior
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2017 | junho | REVISTA dA ORDEM Não se pode negar que o Instituto A propósito, como o Sr. analisa a situa- projeto foi para o Senado, e, sem
é, efetivamente, a célula-matriz da ção atual do Brasil? E de que forma o nenhuma discussão, aprovou-se um
Ordem dos Advogados do Brasil. E, Instituto pode intervir? substitutivo, devolveu-se o projeto
após a criação da OAB, na década de à Câmara e isso estava guardado. Em
1930, o Instituto soube manter o seu A situação que nós estamos vivendo 2017, do nada, sem nenhuma con-
espaço. Dali pra frente, a história do hoje reclama uma posição ousada e versa com a sociedade, temos aí uma
Instituto basicamente é pelo viés in- enfática! O presidente da Repúbli- reforma trabalhista acontecendo! E a
telectual. Enquanto a Ordem se ativa ca está se valendo de procedimento reforma previdência, esse descalabro
em questões corporativas e também junto ao Tribunal Superior Eleitoral, com o dinheiro público? Quer dizer,
em questões de cidadania, o Instituto a ponto de que se lhe permita não a sociedade precisa ter alguns órgãos
dos Advogados mantém o foco na ati- ter um julgamento que seja longe do que possam tratar disso. Alguém pre-
vidade cultural e acadêmica, inclusive término do mandato. Ouso dizer até cisa assumir com mais eloquência
produzindo revistas e promovendo que tudo se encaminha para que, en- o protagonismo desse momento. E
debates e palestras. Mas o Instituto cerrado o seu mandato, diga-se “sem os Institutos dos Advogados devem
não se desapercebe de que também objeto” a discussão, se havia ou não buscar isso, por meio de seu Colégio
cabe a ele pugnar pelo prestígio da ad- vinculação. Vou mais além: o Supre- de Presidentes, que se reúne bimen-
vocacia, pela justiça e, fundamental- mo Tribunal Federal está numa expo- salmente para discutir também esses
mente, pela preservação dos valores sição absolutamente inaceitável, em grandes temas nacionais. A propósi-
democráticos, isso está até insculpido que ministros vão à mídia e, sem ne- to, neste mês de junho, ao ensejo da
em nosso estatuto. Aliás, eu tenho nhum constrangimento, comentam, comemoração do centenário do IAP,
convicção de que cabe ao Instituto, discutem e controvertem questões o Colégio de Presidentes dos Insti-
inclusive, ocupar alguns vazios na que estão submetidas ao Supremo. E tutos dos Advogados deverá lançar
atualidade, porque, gostemos ou não, as questões que nós estamos hoje de- um livro sobre a Reforma Política,
a OAB tem o seu viés de representação batendo, como a reforma trabalhista, incluindo três artigos de advogados
e o viés corporativo. Já o Instituto dos por exemplo, são gravíssimas. A Câ- paranaenses, indicando caminhos à
Advogados não tem esse comprometi- mara dos Deputados desenterrou um inadiável reforma que o país neces-
mento e isso até lhe dá melhor mobili- projeto que estava lá desde 1998, que sita. É uma situação extremamente
dade para o manejo de qualquer ques- houvera sido aprovado pela Casa em difícil e são questões que a gente não
tão que possa interessar à sociedade. 2000 – quando, coincidentemente, pode deixar de lado.
Michel Temer era o presidente. Esse
O Instituto dos Advogados O Supremo Tribunal Federal
mantém o foco na atividade está numa exposição
cultural e acadêmica, mas absolutamente inaceitável,
também cabe a ele pugnar pelo em que ministros vão à mídia e, sem
prestígio da advocacia, pela justiça e, nenhum constrangimento, comentam,
fundamentalmente, pela preservação discutem e controvertem questões que
dos valores democráticos.” estão submetidas ao Supremo.”