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Exemplos de superação e cidadania 2017 | agosto | REVISTA dA ORDEM
Duas grandes personalidades
nacionais – uma do mundo jurídico e
outra no campo desportivo – falaram
sobre suas histórias de superação
Aconferência “Deficiência, Su- ou ir pela rua”, disse. Em sua gestão à A Ordem nos dá a
peração e Cidadania” reuniu frente da OAB-SP, a questão da aces- possibilidade de fazer
duas grandes personalidades sibilidade ganhou força. com que a advocacia tenha
nacionais em um debate sobre acessi- essa dimensão diferente,
bilidade: o medalhista olímpico e bi- Lars Grael falou sobre sua traje- de estender a mão para
campeão mundial Lars Grael, e o pre- tória como velejador – de seu início, alguém que precisa superar
sidente da OAB-SP, Marcos da Costa. ainda criança, até os títulos mundiais o pior sentimento que uma
e as medalhas olímpicas. O atleta es- pessoa pode ter, que é a
Costa convive com uma deficiência tava em Vitória (ES) se preparando sensação de injustiça.”
há dois anos, quando perdeu a perna para os jogos de Sidney (Austrália)
direita em um acidente automobilís- quando aconteceu o acidente que o Marcos da Costa
tico voltando de um evento da Ordem mutilou. “Entrou uma lancha pilota-
na capital paulista. O advogado ficou da por um inconsequente, na raia de Superar obstáculos e o
internado por mais de 50 dias, e pas- treino. A minha sorte é que o primeiro preconceito é o que me
sou por 14 cirurgias. Ele encontrou atendimento não partiu de um veleja- faz manter minha carreira
na própria atividade advocatícia um dor comum: ele era médico e cirurgião esportiva ativa, mesmo
alento. “A Ordem nos dá a possibilida- vascular”, contou. com essa deficiência e com
de de fazer com que a advocacia tenha 53 anos de idade.”
essa dimensão diferente, de estender Foi aí que começou sua história
a mão para alguém que precisa supe- de superação, na prova mais difícil Lars Grael
rar o pior sentimento que uma pessoa que disputou na vida. Transferido ao
pode ter, que é a sensação de injustiça. hospital Albert Einstein, em São Pau-
Nós estamos constantemente em con- lo, passou por mais de 10 cirurgias.
tato com temas relevantes, como é o “Naquele momento de luta pela vida,
da pessoa com deficiência”, disse. surgiu o momento de rejeição. Aceitar
ser um aleijado me causava revolta”. O
Foi um gesto amigo que reforçou que foi determinante para Lars, assim
a certeza que Costa tinha de que vol- como para Marcos da Costa, foi a ques-
taria a ter uma vida normal. “Um dia, tão do exemplo. “Certa vez uma enfer-
um amigo me visitou – era o José Lu- meira disse para mim ‘olha, estou gos-
cio Glomb – e me apresentou ao Lars tando de ver. Você está se recuperando
Grael. Esse gesto, a presença daquele tão bem que vai voltar a velejar’. Falei
ídolo na minha frente, compartilhando que ela dizia isso porque não era com
a experiência dele, fazendo com que eu ela. Foi quando ela me mostrou uma
tivesse a convicção de que aquilo tudo prótese em uma das pernas”.
tinha realmente passado e que a vida
continuaria, foi fundamental”. Seis meses após o acidente, ele
voltou a competir oficialmente.
Costa também falou sobre a difi- Passou também a se envolver com
culdade de se locomover em cadeira políticas públicas esportivas para
de rodas em uma metrópole brasi- deficientes físicos, e atualmente é
leira – ele precisou utilizar o equi- presidente da Comissão Nacional de
pamento por alguns meses, antes de Atletas e membro do Conselho Na-
colocar uma prótese. “É impossível cional dos Esportes (CNE). “Superar
ter uma vida normal sendo cadei- obstáculos e o preconceito é o que me
rante numa cidade como São Paulo. faz manter minha carreira esportiva
É impossível passar pelas calçadas. ativa, mesmo com essa deficiência e
As alternativas são não sair de casa com 53 anos de idade”, finalizou.