Page 37 - Revista da Ordem - Edição 40
P. 37

37

Exemplos de superação e cidadania                                                                                                       2017 | agosto | REVISTA dA ORDEM

Duas grandes personalidades
nacionais – uma do mundo jurídico e
outra no campo desportivo – falaram
sobre suas histórias de superação

Aconferência “Deficiência, Su-            ou ir pela rua”, disse. Em sua gestão à         A Ordem nos dá a
          peração e Cidadania” reuniu     frente da OAB-SP, a questão da aces-            possibilidade de fazer
          duas grandes personalidades     sibilidade ganhou força.                  com que a advocacia tenha
nacionais em um debate sobre acessi-                                                essa dimensão diferente,
bilidade: o medalhista olímpico e bi-         Lars Grael falou sobre sua traje-     de estender a mão para
campeão mundial Lars Grael, e o pre-      tória como velejador – de seu início,     alguém que precisa superar
sidente da OAB-SP, Marcos da Costa.       ainda criança, até os títulos mundiais    o pior sentimento que uma
                                          e as medalhas olímpicas. O atleta es-     pessoa pode ter, que é a
    Costa convive com uma deficiência     tava em Vitória (ES) se preparando        sensação de injustiça.”
há dois anos, quando perdeu a perna       para os jogos de Sidney (Austrália)
direita em um acidente automobilís-       quando aconteceu o acidente que o                                    Marcos da Costa
tico voltando de um evento da Ordem       mutilou. “Entrou uma lancha pilota-
na capital paulista. O advogado ficou     da por um inconsequente, na raia de             Superar obstáculos e o
internado por mais de 50 dias, e pas-     treino. A minha sorte é que o primeiro          preconceito é o que me
sou por 14 cirurgias. Ele encontrou       atendimento não partiu de um veleja-      faz manter minha carreira
na própria atividade advocatícia um       dor comum: ele era médico e cirurgião     esportiva ativa, mesmo
alento. “A Ordem nos dá a possibilida-    vascular”, contou.                        com essa deficiência e com
de de fazer com que a advocacia tenha                                               53 anos de idade.”
essa dimensão diferente, de estender          Foi aí que começou sua história
a mão para alguém que precisa supe-       de superação, na prova mais difícil                                           Lars Grael
rar o pior sentimento que uma pessoa      que disputou na vida. Transferido ao
pode ter, que é a sensação de injustiça.  hospital Albert Einstein, em São Pau-
Nós estamos constantemente em con-        lo, passou por mais de 10 cirurgias.
tato com temas relevantes, como é o       “Naquele momento de luta pela vida,
da pessoa com deficiência”, disse.        surgiu o momento de rejeição. Aceitar
                                          ser um aleijado me causava revolta”. O
    Foi um gesto amigo que reforçou       que foi determinante para Lars, assim
a certeza que Costa tinha de que vol-     como para Marcos da Costa, foi a ques-
taria a ter uma vida normal. “Um dia,     tão do exemplo. “Certa vez uma enfer-
um amigo me visitou – era o José Lu-      meira disse para mim ‘olha, estou gos-
cio Glomb – e me apresentou ao Lars       tando de ver. Você está se recuperando
Grael. Esse gesto, a presença daquele     tão bem que vai voltar a velejar’. Falei
ídolo na minha frente, compartilhando     que ela dizia isso porque não era com
a experiência dele, fazendo com que eu    ela. Foi quando ela me mostrou uma
tivesse a convicção de que aquilo tudo    prótese em uma das pernas”.
tinha realmente passado e que a vida
continuaria, foi fundamental”.                Seis meses após o acidente, ele
                                          voltou a competir oficialmente.
    Costa também falou sobre a difi-      Passou também a se envolver com
culdade de se locomover em cadeira        políticas públicas esportivas para
de rodas em uma metrópole brasi-          deficientes físicos, e atualmente é
leira – ele precisou utilizar o equi-     presidente da Comissão Nacional de
pamento por alguns meses, antes de        Atletas e membro do Conselho Na-
colocar uma prótese. “É impossível        cional dos Esportes (CNE). “Superar
ter uma vida normal sendo cadei-          obstáculos e o preconceito é o que me
rante numa cidade como São Paulo.         faz manter minha carreira esportiva
É impossível passar pelas calçadas.       ativa, mesmo com essa deficiência e
As alternativas são não sair de casa      com 53 anos de idade”, finalizou.
   32   33   34   35   36   37   38   39   40   41   42