Page 8 - Revista da Ordem - Edição 25
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entrevista R o g é r i a D o t t i

                                            Novo                                        Qual é o principal ponto positivo
                                            CPC:                                        do novo CPC?
                                                                                        Acho que o principal ponto posi-
                                            principais                                  tivo do Código é a busca de uma
                                            alterações                                  jurisprudência mais estável, com
                                                                                        respeito aos precedentes. Por-
Odia 18 de março de 2016                    Rogéria Dotti, doutoranda e mestre em       que o maior problema, hoje, na
              marcou o fim de uma longa     Direito Processual Civil pela Universida-   advocacia, é a instabilidade das
              espera: é quando entrou em    de Federal do Paraná e Secretária-Geral     decisões judiciais. Os advoga-
              vigor o novo Código de Pro-   Adjunta do Instituto Brasileiro de Direi-   dos não sabem como orientar os
cesso Civil (CPC), publicado em 2015,       to Processual no Paraná: “Estou muito       clientes em relação às demandas.
projetado há anos e almejado há déca-       otimista em relação ao novo CPC, em-        Em determinadas situações, po-
das. O novo CPC vem para substituir         bora a gente saiba que o Código, por si,    deríamos orientar nossos clientes
seu antecessor, de 1973, criticado por ter  nada muda. Quem muda a realidade são        a não recorrer e a fazer acordos,
se tornado uma colcha de retalhos após      as pessoas”. Coordenadora da Escola         por exemplo, se nós tivéssemos a
dezenas de alterações. Ironicamente, po-    Superior de Advocacia da OAB Paraná         certeza de que a posição do tribu-
rém, o novo CPC entra em vigor já tendo     no último triênio (quando desenvolveu o     nal é esta ou aquela. Como não
sido modificado pela Lei 13.256, deste      projeto Caravanas CPC 2015, que levou       temos, a tendência é orientar a
ano, que o altera pontualmente, como        as principais alterações do novo Código     recorrer. Tudo isso faz com que
no caso da ordem cronológica para jul-      aos advogados de todo o estado), ela des-   os processos se arrastem por mais
gamento das ações – que deixou de ser       taca a importância do aperfeiçoamento       tempo e, principalmente, que a
obrigatória, como estabelecia o texto ori-  e da participação da classe: “A lei só vai  gente não tenha segurança jurí-
ginal do novo Código, passando a ser de     funcionar se os advogados exigirem sua      dica. Há ainda outro problema
observância preferencial.                   aplicação e, para tanto, precisam conhe-    muito grave, que é a violação ao
                                            cê-la”. Assim, a fim de que os advogados    princípio da isonomia: situações
    De qualquer modo, a expectativa é       paranaenses conheçam um pouco mais          iguais sendo decididas de forma
que o CPC 2015 represente um avanço         sobre o CPC 2015, Rogéria Dotti fala        desigual. As pessoas têm, então,
importante, mas, para tanto, é preciso      nesta entrevista sobre alguns dos princi-   uma sensação de injustiça em re-
que seja acompanhado de uma mudan-          pais pontos da nova lei.                    lação à prestação jurisdicional e
ça cultural. É o que afirma a advogada                                                  isso é muito ruim para a credibi-
                                                                                        lidade do Poder Judiciário.

                                                                                        Como o novo CPC materializa
                                                                                        essa busca pela estabilidade da
                                                                                        jurisprudência?
                                                                                        Conforme o artigo 926 do Código,
                                                                                        os tribunais devem uniformizar sua
                                                                                        jurisprudência e mantê-la estável,
                                                                                        íntegra e coerente. É um dispositi-
                                                                                        vo genérico, que prescreve que os
                                                                                        tribunais uniformizem seu entendi-
                                                                                        mento. Mas o melhor é que, na se-
                                                                                        quência, os incisos do artigo 927 es-
                                                                                        tabelecem quais decisões devem ser
                                                                                        observadas por juízes e tribunais.
                                                                                        Por exemplo: o Código traz a novi-
                                                                                        dade de que devem ser observados
                                                                                        os enunciados das súmulas do Su-
                                                                                        premo Tribunal Federal (STF) e do
                                                                                        Superior Tribunal de Justiça (STJ),
                                                                                        não apenas as súmulas vinculantes
                                                                                        do Supremo. Então, em princípio,
                                                                                        todas as decisões do STF e do STJ
                                                                                        devem ser observadas pelos juízes
                                                                                        que estão abaixo desses tribunais.
                                                                                        Há também a previsão de se ob-

8 | março | 2016 | REVISTA dA ORDEM
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