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58 Cadernos Jurídicos

Constituição,                                                             José Arthur
estabilidade e                                                  Castillo de Macedo

   democracia                                                                     Advogado inscrito
                                                                              na OAB/PR nº 50.931
                                                                              Professor do curso de
                                                                            Direito do IFPR/Palmas
                                                                         Doutorando em Direito do
                                                                           Estado pelo PPGD-UFPR
                                                                            Integrante da Comissão
                                                                        de Estudos Constitucionais
                                                                       da OAB/PR e pesquisador do
                                                                       Núcleo Constitucionalismo e
                                                                        Democracia do PPGD/UFPR

Há mais de dois anos o Brasil tem passado por uma               do com o princípio republicano (art. 1º, CF), ao tratar a todos
             das maiores crises de sua história, em uma com-    os investigados da mesma forma, aplicando a eles, de forma
             binação incomum de crise política e econômica.     idêntica, as regras que regem as investigações e assegurando
Nesse período, a regra tem sido a instabilidade e as relações   os direitos fundamentais de todos os investigados ou réus.
promíscuas entre poder político e econômico foram escanca-
radas, sobretudo após a deflagração da Operação Lava Jato.          Não obstante a fiscalização exercida pelas instituições,
Neste contexto de crise e de enorme protagonismo de alguns      também é fundamental recuperar o protagonismo da socieda-
atores, é imprescindível que perguntemos qual é o papel das     de. Algumas pessoas poderão dizer que a sociedade tem sido
instituições e da Constituição na garantia do Estado democrá-   protagonista ao ocupar ruas e praças com passeatas, o que é
tico de direito e da República.                                 meia verdade, pois alguns poderes públicos tem solenemente
                                                                ignorado a sociedade ou se negando a com ela dialogar. Uma
     É grande a tentação de procurarmos respostas simples       prova desta afirmação é a forma como tem sido conduzido
para os complexos problemas que enfrentamos. A angústia         o debate a respeito da reforma trabalhista e da previdência.
gerada pela prolongada instabilidade política e pela tensão     Parece que a opinião da sociedade não importa para muitos
vivenciada em um contexto de relações sociais radicalizadas     políticos. Além de um grave erro político, tal comportamento
tende a estimular a produzir a resposta fácil do voluntarismo   é inconstitucional e gera ainda maior instabilidade política.
ou do salvacionismo. Estes caminhos são conhecidos: basta
escolher a pessoa “X” que salvará a nação (salvacionismo), ou,      Em uma República democrática, os poderes devem ser res-
basta colocarmos as pessoas certas em algumas posições que      ponsivos, isto é, devem dar respostas às preferências expressas
os problemas serão resolvidos (voluntarismo). Contudo, a his-   pelos cidadãos. Além disso, devem ser promotores de um deba-
tória dos países mais justos e probos prova que não há nada     te robusto de ideias. O debate político só será robusto quando
de mais equivocado, pois o melhor caminho para enfrentar        forem levadas em consideração as posições de todos os possí-
tais problemas passa pelo cumprimento da Constituição, com      veis afetados pelas decisões a serem tomadas. Por exemplo, no
atuação das instituições e o respeito a vontade da cidadania.   debate sobre a reforma da previdência, devem ser ouvidos os
                                                                especialistas em economia, os representantes dos trabalhado-
     Como se sabe, desde a Constituição de 1891 importamos      res e dos empregadores, dos aposentados, etc. Caberá aos re-
da Constituição dos Estados Unidos algumas instituições         presentantes (do Executivo e do Legislativo) ouvi-los e, depois,
como o federalismo, o presidencialismo e a separação dos po-    apresentar as suas as razões que justifiquem perante a socieda-
deres. Desde então nossa separação dos poderes é baseada na     de a tomada de decisão num sentido ou noutro.
ideia de que um poder controla o outro evitando abusos no
exercício de suas funções, conforme a técnica de freios e con-      A combinação de instituições fortes e imparciais com
trapesos. Entretanto, este mecanismo não tem funcionado no      a participação ativa da população pressupõe políticos que
Brasil. Ao invés do Poder Legislativo controlar o Executivo e   atuem de forma responsiva e que fomentem um debate pú-
do Executivo instituir um diálogo com o Legislativo a respeito  blico robusto acerca das melhores saídas para a crise. Em um
das melhores soluções para a crise econômica, observamos,       Estado democrático de direito, e, especialmente, na República
atônitos, muitos políticos darem as costas para a sociedade.    Federativa do Brasil, o papel das instituições é representar a
Não bastasse isto, assistimos o conluio entre políticos, gran-  vontade do povo de quem emana o seu poder (Art. 1º, pará-
des corporações e empresários corruptos, que privatizaram o     grafo único da Constituição). Agir de forma diferente, toman-
Estado monopolizando-o para a realização de seus interesses.    do decisões à força sem a apresentação de justificativas pú-
                                                                blicas e racionais que possam ser debatidas publicamente, é
     No entanto, é verdade que algumas instituições tem de-     agir contra a Constituição e reproduzir um passado de arbítrio
sempenhado papel importante para que tais práticas não          que não condiz com um regime democrático. Portanto, a saída
se repitam. Porém, delas e de todas as instituições deve ser    da crise e a retomada da estabilidade passa pelo respeito aos
exigida a atuação imparcial diante dos complexos problemas      direitos fundamentais e pelo cumprimento da Constituição.
enfrentados. No atual momento, essa atuação estará de acor-     Algo simples, porém de difícil realização.
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