Page 16 - Revista da Ordem - Edição 31
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notícias
Advogados defendem transparência
na reforma da previdência social
O mito do déficit da previdência, aumento da idade mínima, igualdade
de gênero e expectativas de direito estão no centro das discussões
Na iminência de uma nova re- mito” pelos previdenciaristas. mito | “Dizer que há déficit previ-
forma na previdência social, os Ao abrir os debates, o presidente da denciário é algo que espanca a lógi-
advogados se mobilizam para ca”, diz a especialista em finanças
garantir que as mudanças ocorram de OAB Paraná, José Augusto Araújo de públicas Denise Lobato Gentil. De-
forma democrática, com ética e transpa- Noronha disse que a Ordem não ficará nise compara o cenário de crise pre-
rência. Preocupada com os rumos que inerte diante da reforma previdenciá- videnciária transmitido hoje pelo go-
a reforma pode tomar, a Comissão de ria. “Não podemos fugir desse grande verno ao que foi feito anos atrás com
Direito Previdenciário da OAB Paraná tema sob pena de sermos atropelados a saúde pública. “Minha hipótese é a
já iniciou as discussões e organizou, no por supressão de direitos e redução de de proposital precarização do siste-
dia 14 de setembro, uma audiência pú- garantias. Muita coisa precisa ser re- ma público, induzindo a população a
blica com a participação de algumas das vista, mas existem também limitações. buscar serviços privados de saúde. É o
principais referências nacionais no tema. Precisamos ter uma posição clara para que chamo de privatização silenciosa.
que a advocacia seja ouvida no Con- E é exatamente o que vemos hoje no
José Antonio Savaris, Fábio Zam- gresso”, afirmou. setor da previdência, com o governo
bitte, Jane Berwanger, Denise Gentil, alardeando o mais que pode o déficit
Ana Paula Fernandes, entre outros, O presidente da Comissão, Leo- de R$ 85 bilhões”, alerta.
apresentaram um panorama das atuais nardo Ziccarelli, lembrou que a socie-
condições do sistema previdenciário dade deposita na OAB a esperança de O governo está, segundo ela, esti-
brasileiro, abordando questões como que a reflexão sobre a previdência seja mulando deliberadamente o cidadão a
idade mínima, aposentadoria rural, pautada por critérios de necessidade, procurar um plano de previdência com-
igualdade de gênero, expectativas de adequação e proporcionalidade. “A plementar. “Nadando contra a corrente,
direitos e regras de transição. Também previdência social não é uma empresa digo que temos uma nação com gigan-
foi debatida a questão do suposto dé- qualquer. Seu objetivo social é entregar tesca capacidade de arrecadação. No
ficit da previdência, considerado “um dignidade às pessoas e dar aos brasilei- entanto, passa-se à população o discur-
ros garantias sociais”, assinalou. so de um Estado falido. É um discurso
falacioso”, afirma Denise.
Dizer que
há déficit De acordo com a especialista, um
previdenciário é Estado com o nível de receita que temos
algo que espanca no Brasil não pode alegar que está com
a lógica as finanças precárias. A renúncia fiscal
do governo federal somou R$ 23 bilhões
Denise Gentil em 2014 e R$ 25 bilhões em 2015. Isso
é um quarto do que se gasta anualmen-
te com o SUS. Somando-se isenções e
deduções, as desonerações tributárias
globais chegaram a R$ 282 bilhões em
2015. Na área de previdência, a re-
núncia em 2015 foi de R$ 157 bilhões,
sendo R$ 62 bilhões somente com a
contribuição sobre a folha para o INSS.
“Comparem: são R$ 85 bilhões de défi-
cit contra R$ 157 bilhões de renúncias
no mesmo setor, o da previdência. Qual
a lógica?”, questiona.
Para Denise, não é verdade que
o gasto com a previdência cresceu.
16 | setembro/outubro | 2016 | REVISTA dA ORDEM