Page 19 - Revista da Ordem - Edição 36
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                                                                                   Leonardo
                                                                                   Ziccarelli:
                                                                                   reforma é um
                                                                                   açodamento
                                                                                   dos direitos
                                                                                   sociais

A favor de reformas,                                                               pessoas que estarão saindo do merca-
mas contra a PEC 287                                                               do e recebendo os benefícios. Porém,
                                                                                   na sua opinião, o governo joga uma
Opresidente da Comissão de Direito Previdenciário, Leonardo Ziccarelli, ex-        “pimenta” a mais com o discurso do
      plica que todo esse movimento da comissão estadual, da OAB nacional e de     ajuste fiscal e aterroriza a sociedade.
outras entidades se intensificou agora porque a PEC 287/2016 já está na Comis-
são Especial da Câmara dos Deputados. “É muito importante barrar as propostas          “Contra esse discurso tem os da-
que representam evidente retrocesso social neste momento, antes que a emenda       dos oficiais de algumas entidades que
ingresse para votação”, diz.                                                       demonstram que não existe esse défi-
                                                                                   cit no momento – o que não significa
    Ziccarelli enfatiza que a posição de todas as entidades é que a reforma em si  que não possa existir daqui a algum
é necessária, mas não da forma como propõe o governo, com mudanças abusivas        tempo. Por isso as mudanças são ne-
e radicais, sem levar em conta as desigualdades sociais. “Tem que mudar a idade    cessárias, mas não com esse discurso
mínima? Tem que mudar a forma de cálculo? Tem que mudar o tempo mínimo             de calamidade. É um discurso deso-
de contribuição? Sim, mas não da maneira que está sendo imposta. Tem que ser       nesto com a sociedade”, afirma.
de forma gradativa”, sustenta. O que o substitutivo global propõe, de acordo com
Ziccarelli, é justamente um meio termo.                                                Ziccarelli lembra que quem está
                                                                                   por trás da reforma da previdência é
    Alguns pontos da PEC são inaceitáveis, segundo o presidente da comissão.       a equipe econômica do governo, por-
“Aceitar que a pensão por morte seja paga em valor inferior ao salário mínimo –    tanto a visão sobre o sistema de pro-
isso é inconcebível. Não ser possível acumular aposentadoria com pensão – isso     teção social é uma visão econômica.
também é inegociável”, afirma. Outro problema grave é igualar a idade mínima       “Isso é muito ruim quando se trata
do trabalhador rural com a do trabalhador urbano. “É muito cruel com a realida-    de direitos mínimos, de proteção aos
de social do trabalhador rural”, enfatiza.                                         trabalhadores de baixa renda”, diz.
                                                                                   Na sua opinião, tanto a reforma pre-
    Leonardo Ziccarelli esclarece que o governo se apoia em dois fatores para      videnciária como a trabalhista são
justificar a reforma da previdência – a queda na taxa de natalidade e o déficit    um açodamento dos direitos sociais.
previdenciário. Para ele, o governo tem razão na questão das mudanças demo-        “Estão restringindo direitos sociais e
gráficas, pois o sistema previdenciário é intergeracional. Daqui a 30 anos tere-   o pano de fundo de tudo isso é o sis-
mos menos pessoas ingressando no mercado de trabalho e contribuindo do que         tema financeiro. Quem ganha são os
                                                                                   bancos, é a previdência privada.”

Dados para refletir sobre a reforma da previdência

Durante a entrevista, o presidente da Comissão de Direito            anos eles serão 1/3 da população
Previdenciário, Leonardo Ziccarelli, apresentou alguns dados que     Atualmente temos 6 a 7 trabalhadores para cada idoso. Em
contribuem para refletir sobre o impacto da reforma da previdência:  30 anos serão 2 trabalhadores para cada idoso
                                                                     1% dos empregos formais do país pertencem a pessoas com
     70% dos benefícios previdenciários pagos pelo INSS são de       mais de 60 anos
     apenas um salário mínimo. 80% são de até dois salários mínimos  Apenas 60% da população economicamente ativa contribui
     Exemplo das diferenças na expectativa de vida entre as          para previdência social
     regiões norte e o sul. Em Santa Catarina é de 78 anos; no       O governo diz que há um rombo na previdência de R$ 150
     Piauí, é de 70 anos                                             bilhões, mas há um estoque de dívida ativa contra grandes
     Hoje os idosos representam 13% da população. Daqui a 30         empresas que não pagam INSS de R$ 400 bilhões
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