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2017 | junho | REVISTA dA ORDEM
Qual o verdadeiro custo do divórcio?
Os custos do divórcio para o cliente não costumam ser apenas materiais e financeiros. As ações envolvem tam-
bém custos emocionais, que o profissional da advocacia acompanha de perto, e sobre os quais pode aconselhar.
O tema foi discutido no II Congresso Paranaense de Direito de Família e, sobre o assunto, profissionais de outras
áreas do conhecimento fizeram suas ponderações. Confira:
Essência traumática Toxicidade do Judicialização do
litígio A dissolução afeto É visível e gritante
O divórcio não põe fim à família, mas
organiza modos de convivência a partir da família nuclear não é o como as perdas emocionais
dos ritos jurídicos. Mesmo quando problema, agora o litígio suplantam as perdas materiais
falamos dos afastamentos determinados é um problema. Litígio é numa separação ou num divórcio.
judicialmente, estamos falando da tóxico para as crianças. Isso A dor dos filhos se interpõe
necessidade de normatizar relações é um consenso. Estudos entre o casal, as banalidades não
que existem, em especial quando o apontam os efeitos disso têm equação para resolver. As
fim do casamento resultou em ódio, na criança que vivenciou o grandes disputas não são pelo
desavenças, desejos de vingança, dívidas. divórcio dos pais: piora na patrimônio, mas pelas pequenas
Quando falamos em divórcio, mesmo nas leitura, soletração, cálculo, coisas. Nós lidamos com as perdas
melhores condições, estamos tratando maiores taxas de repetência, das banalidades do cotidiano. É
de uma ruptura que em essência é distúrbios emocionais. Em fundamental o casal perceber que
traumática. Um casamento não é uma curto prazo, esta criança no momento de separação vai
instituição simples, é um drama da sente medo, frustação, haver perdas. Não tem divórcio
junção de dois sistemas de parentesco. preocupação, sentimento fast-food que resolva este
É complexo, cria terminologias, é de rejeição, conflitos de problema. Não adianta achar que
festejado, a sociedade e as instituições lealdade, ansiedade, baixa a dor é banal e que vai se resolver
são convocadas a testemunhar a sua autoconfiança. Elas têm tudo assinando um papel. O luto
existência. Como tal, a separação implica 39% mais psicopatologias precisa ser vivido. E a rapidez
em igual força dramática e a sociedade classificadas pelo DSM 5 do da sociedade hoje é de tal ordem
é novamente chamada a participar com que a população em geral. que não permite que as pessoas
seus ritos separadores. Pedro Ming Azevedo – Médico experimentem a dor e a tristeza.
Célio Luiz Pinheiro – Psicanalista Reumatologista Andréa Pachá – Juíza de Direito
resolver conflitos antes que eles cheguem ao Judiciário. O específicas de Direito de Família. Nós estamos conversando
trabalho hoje é desjudicializar a mediação prevista no Có- para possibilitar esses cursos”, disse.
digo de Processo Civil de 2015”, diz.
A Comissão de Direito de Família iniciou as atividades
“Com certeza teremos outras demandas, como melhoria com o II Congresso Paranaense de Direito de Família, reali-
do setor de Psicologia e Assistência Social da Vara de Famí- zado em parceria com a Escola Superior de Advocacia (ESA)
lia. Já conversei com vários colegas e vamos elaborar uma e o IBDFam. “Conseguimos trazer vários doutrinadores
ação conjunta de capacitação, melhorias, implantação do de renome, tivemos a presença maciça de advogados que
depoimento sem danos para as oitivas de menores na Vara atuam na área, além da presença de magistrados e promo-
de Família”, esclarece a advogada. “Também há o projeto tores. Percebemos que o Direito de Família precisa de um
de levar cursos da ESA ao interior do estado sobre matérias olhar diferenciado”, avalia Andrea.