Page 29 - Revista da Ordem - Edição 38
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Qual o verdadeiro custo do divórcio?

   Os custos do divórcio para o cliente não costumam ser apenas materiais e financeiros. As ações envolvem tam-
bém custos emocionais, que o profissional da advocacia acompanha de perto, e sobre os quais pode aconselhar.
O tema foi discutido no II Congresso Paranaense de Direito de Família e, sobre o assunto, profissionais de outras
áreas do conhecimento fizeram suas ponderações. Confira:

Essência traumática                              Toxicidade do                          Judicialização do
                                                 litígio A dissolução                   afeto É visível e gritante
O divórcio não põe fim à família, mas
organiza modos de convivência a partir           da família nuclear não é o             como as perdas emocionais
dos ritos jurídicos. Mesmo quando                problema, agora o litígio              suplantam as perdas materiais
falamos dos afastamentos determinados            é um problema. Litígio é               numa separação ou num divórcio.
judicialmente, estamos falando da                tóxico para as crianças. Isso          A dor dos filhos se interpõe
necessidade de normatizar relações               é um consenso. Estudos                 entre o casal, as banalidades não
que existem, em especial quando o                apontam os efeitos disso               têm equação para resolver. As
fim do casamento resultou em ódio,               na criança que vivenciou o             grandes disputas não são pelo
desavenças, desejos de vingança, dívidas.        divórcio dos pais: piora na            patrimônio, mas pelas pequenas
Quando falamos em divórcio, mesmo nas            leitura, soletração, cálculo,          coisas. Nós lidamos com as perdas
melhores condições, estamos tratando             maiores taxas de repetência,           das banalidades do cotidiano. É
de uma ruptura que em essência é                 distúrbios emocionais. Em              fundamental o casal perceber que
traumática. Um casamento não é uma               curto prazo, esta criança              no momento de separação vai
instituição simples, é um drama da               sente medo, frustação,                 haver perdas. Não tem divórcio
junção de dois sistemas de parentesco.           preocupação, sentimento                fast-food que resolva este
É complexo, cria terminologias, é                de rejeição, conflitos de              problema. Não adianta achar que
festejado, a sociedade e as instituições         lealdade, ansiedade, baixa             a dor é banal e que vai se resolver
são convocadas a testemunhar a sua               autoconfiança. Elas têm                tudo assinando um papel. O luto
existência. Como tal, a separação implica        39% mais psicopatologias               precisa ser vivido. E a rapidez
em igual força dramática e a sociedade           classificadas pelo DSM 5 do            da sociedade hoje é de tal ordem
é novamente chamada a participar com             que a população em geral.              que não permite que as pessoas
seus ritos separadores.                           Pedro Ming Azevedo – Médico           experimentem a dor e a tristeza.

             Célio Luiz Pinheiro – Psicanalista                         Reumatologista      Andréa Pachá – Juíza de Direito

resolver conflitos antes que eles cheguem ao Judiciário. O    específicas de Direito de Família. Nós estamos conversando
trabalho hoje é desjudicializar a mediação prevista no Có-    para possibilitar esses cursos”, disse.
digo de Processo Civil de 2015”, diz.
                                                                  A Comissão de Direito de Família iniciou as atividades
    “Com certeza teremos outras demandas, como melhoria       com o II Congresso Paranaense de Direito de Família, reali-
do setor de Psicologia e Assistência Social da Vara de Famí-  zado em parceria com a Escola Superior de Advocacia (ESA)
lia. Já conversei com vários colegas e vamos elaborar uma     e o IBDFam. “Conseguimos trazer vários doutrinadores
ação conjunta de capacitação, melhorias, implantação do       de renome, tivemos a presença maciça de advogados que
depoimento sem danos para as oitivas de menores na Vara       atuam na área, além da presença de magistrados e promo-
de Família”, esclarece a advogada. “Também há o projeto       tores. Percebemos que o Direito de Família precisa de um
de levar cursos da ESA ao interior do estado sobre matérias   olhar diferenciado”, avalia Andrea.
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